segunda-feira, abril 03, 2006

A "coisa" faz trinta anos

Os nossos democratas encartados costumam dizer que os "excessos" revolucionários terminaram com o contra-golpe de 25 de Novembro de 1975. Que a partir daí se entrou na "normalidade democrática", tendo a rua deixado de pautar o dia-a-dia da política portuguesa.
Os trinta anos da constituição democrática deveriam fazer pensar melhor os que adoptam uma conclusão tão rápida. Logo no dia citado, o sinistro Melo Antunes afirmava que o PCP tinha um papel indispensável na construção da democracia portuguesa. Pelo exemplo dado por esse partido nos meses anteriores estávamos elucidados. (E o mesmo militar entregava Cabinda de pés e mãos atados aos facínoras do MPLA.)
Só o CDS, honra lhe seja feita, votou contra uma constituição que afirmava que o grande objectivo nacional era a "construção de uma sociedade sem classes"; que as nacionalizações eram irreversíveis; que atribuía ao Conselho da Revolução (extinto na revisão de 1982, mais uma vez com papel decisivo do CDS) poderes de veto às propostas da Assembleia da República . Uma constituição, em suma, que sob uma capa democrática proclamava objectivos na linha dos que à época uma Albânia ou uma Cuba abraçavam igualmente.
Levá-la-iam a sério os deputados da Assembleia Constituinte? Ou procuravam apenas trazer o PCP para a já citada "normalidade democrática", acalmar a rua, enquanto iriam trabalhar pela implantação de um regime democrático à ocidental? Que era essa a atitude - no fundo, hipócrita - do PSD, não parece haver dúvidas. No caso do PS, oscilando entre a ala esquerda e os humores do Dr. Soares, teríamos um misto de hipocrisia, oportunismo e convicção ideológica.
O que é certo é que até 1982, em que o já citado CR foi extinto, e 1989, em que as limitações ao livre funcionamento de uma economia de mercado foram finalmente eliminadas, vivemos quase quinze anos com objectivos de sociedade típicos do outro lado da cortina de ferro. As consequências para a nossa economia, para as mentalidades, para o desenvolvimento, foram catastróficas e ainda hoje continuamos a pagar essa pesada factura.
Os arquitectos do "monstro", esses são sempre homenageados regularmente: ou no 10 de Junho - ou quando morrem.

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