quarta-feira, abril 05, 2006

"Une Histoire de la Musique"

Em 1969, Lucien Rebatet (1), respondendo a uma "necessidade alimentar" (2), edita "Une Histoire de la Musique, des origines à nos jours". O escritor maldito, o colaboracionista entusiasta, o anti-semita, o germanófilo, o que rompeu com a "Inaction Française" (um dos capítulos de "Les Décombres" chama-se "Au sein de l'Inaction Française" (3)), assinava a sua obra mais divulgada no pós-guerra, ainda hoje muito lida e facilmente adquirível.
Trata-se de uma história da música ocidental, desde a antiguidade à música do século XX. O autor, com o seu estilo inconfundível, analisa as grandes correntes musicais, os grandes e menos grandes autores, afirma o seu wagnerismo e mostra-se também um grande conhecedor dos compositores contemporâneos: algumas das páginas mais conseguidas da obra trazem um vibrante elogio dos três compositores da chamada Segunda Escola de Viena: Arnold Schönberg, Alban Berg e Anton Webern. Além do seu génio composicional, Rebatet, muito justamente, salienta a sua intransigente fidelidade aos seus princípios, apesar das incompreensões que enfrentaram durante toda a vida.
Também entusiasticamente é abordada a obra de Gustav Mahler, censurando o autor o nazismo por ter ostracizado a música deste judeu convertido (4), esquecendo-se no entanto das recomendações que ele próprio fizera a respeito dos judeus em "Les Décombres". Mas o amor à música tudo vence!
Nesta história são cometidas algumas injustiças tremendas. A forma quanto a mim algo leviana como é abordada a obra do genialíssimo Anton Bruckner é imperdoável. Outros compositores são igualmente maltratados mas não se pode acusar Rebatet de o fazer por desconhecimento das suas obras.
Melómano fanático, Rebatet sofreu horrivelmente por, nos anos em que esteve preso, não ter podido ouvir música. Compreendo o drama!

(1) O artigo da Wikipedia sobre Rebatet está, estranhamente, muito sóbrio e objectivo.
(2) Palavras do próprio no esboço de autobiografia reproduzido no final de "Rebatet", de Pol Vandromme.
(3) Charles Maurras mostrou a sua pior faceta ao reagir ao livro do ex-crítico de cinema da "Action Française", chegando a insinuar que Véronique, a mulher de Rebatet, de origem romena, seria judia, o que era falso. O episódio é narrado por Rebatet em "Mémoires d'un Fasciste".
(4) Convertido mas sempre agnóstico. Interrogado um dia sobre se pensava em compor uma missa, Mahler respondeu: «E o Credo

3 comentários:

Jansenista disse...

Não conhecia o deslize de Maurras, mas é muito revelador de uns tempos infernais...
Quanto à injustiça com Bruckner, impressiona (confesso que nos verdes anos cantei em público algumas obras de Bruckner que eram de uma beleza arrebatadora), mas o gosto de Rebatet é em geral requintado e iluminador.

Mendo Ramires disse...

Notável postal, de elevada erudição e bom gosto. Bravo!

Anónimo disse...

Aqui está um bom livro para o meu amigo oferecer ao NAT (Núcleo de Arte e Tradição)

Observações horizontais - Este gajo tá um pedinchas do caraças!


Legionário