terça-feira, julho 18, 2006

18 de Julho

«No dia 15 de Abril tomaram a cidade costeira de Vinaroz, estabelecendo um corredor que separava a frente da Catalunha do resto da Espanha republicana. Era Sexta-Feira Santa e os requetés carlistas irromperam pelo Mediterrâneo como se se tratasse do rio Jordão. Todos os jornais nacionalistas descreveram o modo como o seu comandante, o General Alonso Vega, se ajoelhou na praia, enterrou os dedos na areia do mar e benzeu-se. Aperceberam-se então que o fim da sua cruzada estava agora à mão.»(Anthony Beevor, "A Guerra Civil de Espanha", Livros do Brasil, Lisboa.)
Esta imagem é para mim das imagens mais vivas da terrível Guerra Civil de Espanha. Faz precisamente hoje 69 anos que ocorreu o "Alzamiento", que, após três anos de uma guerra fratricida, libertou a Espanha da ameaça comunista.Os republicanos cedo cederam à tentação do apoio bolchevista, enviando milhões em ouro directamente para a URSS, em troca de apoio militar (meios e homens). Em breve eram os soviéticos quem decidia as manobras militares a efectuar, as tácticas, etc. Os fuzilamentos no campo republicano foram aos milhares, pois muitos voluntários se recusavam a entrar em batalhas que sabiam perdidas de início.A Espanha "profunda", católica e conservadora, acolheu de bom grado o levantamento, tendo a Igreja suspirado de alívio após anos de perseguições, violências diversas, destruição de igrejas, assassinatos.Do lado nacionalista a Falange representava a solução popular anti-bolchevista, isto é, tendo a Espanha um grave probema social, com um campesinato miserável, o movimento de Primo de Rivera representava a vanguarda revolucionária. Após a vitória das tropas de Franco, viu-se que a ala conservadora do "Movimiento" impunha uma solução social e agrária não conflituosa com os interesses dos grandes proprietários.Os carlistas representavam a visão do regresso a uma Idade do Ouro, um mundo rural tradicional organizado em torno da Igreja e do respeito pela Tradição.Do lado republicano a aliança não era menos heteróclita, abarcando comunistas, socialistas, anarquistas e os trotsquistas do POUM. Os comunistas, assim que puderam, arrasaram as cooperativas que os anarquistas tinham instituído em zona republicana, mantendo-se estes, no entanto, na coligação. No final da guerra, nas ruas de Barcelona, ficou bem patente o ódio mútuo, com confrontos que facilitaram a vida aos nacionalistas.As atrocidades da guerra são uma história interminável, tendo ambos os lados responsabilidades gravíssimas no descambar de todo o tipo de violência gratuita.Em última análise a Guerra de Espanha foi um triunfo fantástico sobre o comunismo que, a ocorrer, não teria poupado Portugal, nem ambos os países teriam saído incólumes da II Guerra Mundial. Valeu ainda a perspicácia de Salazar que convenceu Franco, em 1940, a não aceitar que os alemães atravessassem território espanhol para aceder ao Mediterrâneo («Preferia arrancar os dentes todos a ter que falar com Franco novamente», terá dito Hitler após a sua última e frustrada tentativa de convencer o Generalíssimo.) Franco mostrava assim firmeza, apesar de dever estar reconhecido a alemães (e italianos) pelo apoio dispensado durante o conflito.A Guerra Civil mostrou ainda como um conjunto tão variado de tendências agrupadas no seio nacionalista conseguiu deixar de lado as suas divergências (algumas delas bem grandes) em favor da luta contra um inimigo comum que ameaçava mergulhar a Península nas trevas marxistas. Uma lição.
(Publicado no meu antigo blogue há um ano atrás.)

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