"Le Quai des Brumes", de 1938, é umas das obras primas do grande realizador Marcel Carné e uma das suas muitas colaborações com o argumentista Jacques Prévert. Visualmente fascinante, conta uma história triste de amor, com os superlativos Jean Gabin, Michèle Morgan (divina!) e Michel Simon. É uma das obras típicas do chamado "realismo poético", um tempo em que o cinema francês estava ao nível do que de melhor se fazia em todo o mundo.
Uma das curiosidades deste filme é a participação do actor Robert Le Vigan, no papel do pintor depressivo ("pour moi un nageur c'est dejà un noyé"). Os célinianos conhecem bem esta figura. Actor em dezenas de filmes, de 1931 a 1944, Le Vigan era um dos melhores amigos de Louis-Ferdinand Céline e como ele ferozmente anti-semita. Militou no PPF de Jacques Doriot (antigo militante comunista que fundou este partido nacionalista e populista e que atraíu personalidades como Drieu La Rochelle).
A sua "falha capital" foi ter participado aos microfones da Radio Paris (pró alemã) durante a Ocupação, ridicularizando Estaline, Churchill e os judeus. Acompanhou Céline no exílio de Sigmaringen. Vem a ser condenado a dez anos de trabalhos forçados, dos quais cumpre menos de quatro. Não se livra da "indignidade nacional" e vai viver para Espanha. Aí representa em duas películas mas acaba por ir para a Argentina, onde vem a falecer em 1972.
A sua "falha capital" foi ter participado aos microfones da Radio Paris (pró alemã) durante a Ocupação, ridicularizando Estaline, Churchill e os judeus. Acompanhou Céline no exílio de Sigmaringen. Vem a ser condenado a dez anos de trabalhos forçados, dos quais cumpre menos de quatro. Não se livra da "indignidade nacional" e vai viver para Espanha. Aí representa em duas películas mas acaba por ir para a Argentina, onde vem a falecer em 1972.
Christian de la Mazière, em "Le Rêveur Blessé" (ler aqui um comentário ao livro), conta como ajudou o seu amigo Le Vigan a passar para Espanha. São páginas que transbordam de amizade e afecto por um indivíduo extravagante, excessivo, que representou papéis de grande densidade dramática e psicológica, como o citado pintor de "Le Quai des Brumes", o que pintava "as coisas que se escondem por detrás das coisas".
1 comentário:
Uma bela evocação; como é, aliás, hábito nesta Casa.
Saudações bloguistas!
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