O Egipto, governado com mão de ferro há um quarto de século por Hosni Mubarak, não é propriamente um exemplo da democracia que os EUA supostamente desejam ver em expansão no mundo. A oposição é forçada a "estágios" mais ou menos prolongados atrás das grades, a imprensa de livre nada tem.
Um exemplo paradigmático da desconfiança do poder perante quem o possa contestar deu-se aquando da morte do grande escritor Nahgib Mahfouz, falecido no ano passado, cujo cortejo funerário foi controlado pela polícia de modo a evitar um aglomerado de pessoas na última homenagem ao amigo dos humildes.
Outro exemplo é a repressão sobre os Irmãos Muçulmanos, essa espada de Dâmocles ameaçando a todo o momento cair sobre a cabeça do poder. Oficialmente interdito, o movimento islâmico acaba por ser tolerado, num equilíbrio instável entre a repressão que o poder julga necessária para obviar ao crescimento do movimento e alguma liberdade de acção que tem que lhe conceder, para evitar uma revolta em massa dos islamistas.
Hoje realizou-se um referendo em que ia a votos um projecto que reforçaria (o condicional é aqui uma mera formalidade descritiva) os poderes governamentais, num contexto oficial de luta contra o terrorismo. Isto soa a algo familiar! Pois é, mas o país ocidental cujo governo promulgou leis repressivas e discricionárias até há pouco inimagináveis por aquelas paragens afirma-se preocupado com o teor da matéria referendada no Egipto, que poderá conduzir a um retrocesso das reformas democráticas.
Seja como for, não se prevê que os EUA fechem a torneira que rega todos os anos a república egípcia com um bilião de dólares, colocando-a no segundo lugar do ranking da generosidade ianque, mas bem atrás dos quatro biliões destinados a Israel.
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