quarta-feira, abril 19, 2006

Montmartre e os escritores


Um artigo interessante sobre as referências a Montmartre durante a Ocupação por alguns dos escritores que por lá viveram nesse conturbado período da história francesa. Se Marcel Aymé é citado bastas vezes, já Céline é-o en passant, o que é injusto (basta lembrar "Normance", cuja acção é integralmente passada em La Butte).
Louis-Ferdinand Céline tinha um apartamento na rue Girardon (ver foto). No andar de baixo reuniam-se habitualmente resistentes, o que era do conhecimento do médico escritor. Em nenhum momento passou pela sua cabeça denunciá-los à polícia ou à Gestapo: essas atitudes mesquinhas, de que tantos franceses deram mostras, não se coadunavam com a ética de Céline. Pelo contrário, ele assinou muitos atestados médicos benevolentes a jovens franceses que não queriam ir para a Alemanha ao abrigo do acordo STO (por cada dois voluntários que iam trabalhar para a Alemanha, esta libertava um prisioneiro de guerra).
Já o biltre Vailland reconheceu que o seu grupo resistente debateu se deviam ou não liquidar Céline. Boa gente, como se vê.
Marc Laudelout, o incansável animador do "Bulletin Célinien", tentou em tempos junto da mairie parisiense (à época presidida pelo triste que agora é presidente da república) que fosse colocada uma placa no edifício da rue Girardon alusiva ao grande escritor. Esforço inglório, está bem de ver. No seu lugar apareceu um dia um grafitti (ironia das ironias para quem lamenta a poluição visual que invadiu Paris nos últimos 10-15 anos) com o rosto de Céline e a menção de que ele ali viveu. Tenho algures uma fotografia que lá tirei.

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