Há uns tempos, alguns energúmenos pronunciaram-se no blogue de Pierre Assouline contra a reedição frequente de "Une Histoire de la Musique", de Rebatet (ver postal anterior). Dado que o autor é um "fascista notório", seria de todo irrelevante o valor da obra em si, que deveria ser pura e simplesmente retirada das livrarias! Havia inclusive um maduro que confessava que tinha lido o livro mas que não tencionava voltar a pegar nele e que o tinha na sua biblioteca mas por trás de outros livros, bem escondidinho...
Nem todos os comentadores afinavam pelo mesmo diapasão, felizmente, mesmo aqueles que rejeitavam as ideias de Rebatet.
Confesso que compreendo aqueles zelosos censores democráticos. Eu próprio "cheguei" a Rebatet por não haver dessa raça em número suficiente em Portugal. No início da década de 90 os Livros do Brasil editaram as "Memórias de um Fascista", de Lucien Rebatet. Até aí o nome era-me desconhecido. Mas na capa interior mencionava-se que o autor narrava num capítulo a estadia de Céline em Sigmaringen. Como já na época era um feroz céliniano interessei-me logo pela obra, que adquiri sem hesitações. Também é verdade que a minha desilusão intelectual de fim de adolescência com o anarquismo culminou no interesse, para mim próprio inusitado, por uma ideologia nascida em Itália...
Pouco tempo depois, adquiri em Lisboa um dicionário do fascismo, num dia 24 de Abril (provocações de malta nova)! Uma das entradas era sobre Rebatet; aí se mencionava que o escritor tinha colaborado no pós-guerra num semanário chamado "Rivarol". Passados meses estanciei em Lyon (por acaso o local da acção de "Les Deux Etendards" do mesmo Rebatet); ao fulanar pelo centro vi num quiosque o semanário referido. Lembro-me bem do ar simpático do jornaleiro enquanto me dava o troco...
O jornal foi para mim uma revelação pois trazia-me uma maneira diferente, completamente contra a corrente, de ver o mundo, a história, as tradições, bem como revelava manobras sinistras de várias sinarquias. Apesar de me incomodar o racismo latente do título (não era racialismo, era racismo mesmo, mostrava-se simpatia pelo KKK e os crimes racistas não eram condenados), ele foi um marco fundamental na minha formação, abrindo-me horizontes e assentando ideias onde até aí havia conceitos e interpretações mais ou menos confusos.
Hoje só leio o jornal de tempos a tempos.
Reparem os mais novos que no início da década de 90 não havia internet e portanto a busca de informação alternativa passava muito pelo que descrevi: um autor conduzia a um livro ou jornal, que depois divulgava outros e assim, lentamente, se iam obtendo informações e conhecimentos alternativos à ideologia dominante.
Voltando ao início deste texto, é claro que se os censores democráticos fossem mais vigilantes não havia edições de Rebatet, as publicações alternativas se calhar não existiam e a "paz" democrática não teria opositores em número apreciável.
Vamos ver o que é que acontece um dia aos blogues.
quinta-feira, abril 06, 2006
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1 comentário:
Do not fear, meu caro, do not fear.
A Internet, nascida nesse 'Inferno na Terra' chamado EUA, é um magnífico veículo de libebrdade de expressão e veio para ficar.
Para 'iludir' qualquer tipo de sanha persecutória basta saber 'mergulhar' no anonimato e saber muito bem onde reside o site.
Para completar, técnicamente, a Internet, por natureza, é de muito difícil (senão mesmo impossível) controlo.
Os blogues, esses, ainda mais sefuros estão.
Basta o 'artista' ser 'anónimo' para nada temer.
Na realidade, pode estar a 'postar' de qualquer dos biliões (boa parte deles móveis) de pontos no planeta onde tal é possível.
Ainda por cima, os blogs (pelo menos os nossos) residem, FÍSICAMENTE, nos EUA (terra de tenebrosos opressores e exploradores malvados) e, como tal, o que lá se escreve está ao abrigo da Cosntituição dos Estados Unidos da América (1ª Emenda) em geral, e da legislação específica dos Estados em que estão os servidores.
Como tal, se devidamente 'resguardada' a identidade, está o pessoal livre das brigadas censórias da União das Repúblicas Soviéticas Europeias e respectivos patrulheiros 'canhotos'.
Neste aspecto (como em outros...) a liberdade está do outro lado do Atlântico, não neste...infelizmente.
Não passaria sequer pela cabeça do mais desaustinado 'buSShista', nem nos dias de maior fanatismo, 1/10 do atrevimento censório que ainda desgraçadamente campeia no Velho Continente.
Levavam logo com um batalhão de advogados e respectivos processos :)
A única lei que um blog 'anónimo' pode ter que respeitar é esta....
para desespero e fúria tremenda de toda a sorte de gauchistes.
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