sábado, junho 17, 2006

Depois do dilúvio

«Nós já viemos depois do dilúvio! Não nos pertence nenhuma responsabilidade nesse passado de ruína e de suicídio que lá vai sumido, do qual só conservamos a lembrança para nos servir de lição proveitosa. Os horizontes da nossa mocidade sentem-se carregados pela apreensão do dia de amanhã. Achamo-nos vítimas de erros que não cometemos. Por isso, se nesta hora amarga só existimos para o cumprimento dos nossos deveres, há um direito de que não abdicamos - o direito supremo de acusar!
«Nós não somos patriotas por sermos monárquicos. Somos antes monárquicos por sermos patriotas. Pondo a nacionalidade como razão e fim de nós próprios, concluímos na necessidade do Rei como elemento orgânico do seu prestígio e da sua existência. Assim, não condescendemos por honra nossa com os sofismas e com as ficções que durante quase um século tornaram Portugal num seminário fecundo de incompetentes e aventureiros. (...)
«À sombra duma doutrina de salvação nacional, não é neste momento a mocidade portuguesa que enfileira unicamente. São os nossos Mortos, são as virtudes de sempre, as virtudes rurais e guerreiras dum povo, já imortalizado na história do mundo como um dos pioneiros mais nobres da civilização. O Sangue recupera os seus direitos esquecidos. E porque o Sangue os recupera, os fantasmas ideológicos da Revolução empalidecem na sombra e na sombra se desfazem.»
António Sardinha, "Na Feira dos Mitos", 1926.

3 comentários:

Nuno Adão disse...

"O direito supremo de acusar!"
Esta divido, amigo Fsantos.

vs disse...

Este Sardinha....enfim....não há palavras.

Estes 'convertidos/recauchutados' são sempre os piores fanáticos quando dão a 'cambalhota'.

Utopias ontem.
Utopias hoje.
Utopias amanhã.

Deo Gratia!

Paulo Cunha Porto disse...

Meu Caro FSantos:
Altura de lembrar o Acusado, transformado em Acusador, Maurras, dirigindo-se ao Procurador que tentava condená-lo: «Senhor advogado da mulher sem cabeça, se a Honra e a Justiça subsistissem em França, estaria eu sentado no seu lugar e o senhor no meu!».
Sardinha, do alto do seu ensinamento grandioso, propondo o regresso a um sistema provado por séculos e apenas caído por se ter abastardado, é bem a Arca de Noé em que podemos embarcar para superarmos a inundação castigadora.
Abraço.