terça-feira, junho 20, 2006

O combate de Le Pen

Sempre atento, o Paulo escreve um postal com um elogio para mim inesperado à figura de Jean-Marie Le Pen.
Concordo genericamente com a sua análise, desejando contudo acrescentar o seguinte:
- não me apercebi que JMLP tenha renegado o ultra-liberalismo; essa tem sido, aliás, uma das incoerências ideológicas que lhe são apontadas;
- além dos apoios equívocos que o Paulo cita, poder-se-ia também referir a sua amizade com esse criminoso que se chama Vojislav Seselj;
- o seu apego à liderança continua a adiar o problemas da sucessão; passe a comparação pouco apropriada, qualquer dia o homem morre e sucede-lhe um Marcelo Caetano;
- as suas gaffes de linguagem foram realmente infelizes, mais ainda porque deram alimento aos seus histéricos detractores (chamar "Durafour crématoire" ao deputado do CDS Durafour é de um mau gosto extremo e, segundo alguns, revela bem o carácter do personagem).
JMLP foi de facto inteligente ao explorar o filão da questão da imigração para crescer eleitoralmente; crescimento esse que coincidiu com a trágica chegada ao poder de Mitterrand, em 1981, com os efeitos nefastos e irreversíveis para a França que todos conhecemos; o choque ideológico que daí resultou reforçou o peso do FN, enquanto que a vaga imigratória que o PS propiciou e incentivou atirou para os braços do Front muita da classe operária que votava tradicionalmente no PC”F”.
Em suma, pode dizer-se que Le Pen corporiza as contradições do nacionalismo moderno, desde a forma como aborda a questão da imigração, passando pelas alianças com sectores mais tradicionais do catolicismo em choque com outros sectores mais “modernos” ou mesmo declaradamente pagãos. A sua dedicação corajosa e intransigente à causa da “França francesa” fica sempre como um exemplo da atitude requerida para um combate desigual e visto, ó quão frequentemente, como perdido.
A forma como o sistema reagiu à ascensão do Front mostra também as limitações que mesmo um movimento de grande peso eleitoral enfrenta nas democracias modernas: mudança do sistema eleitoral proporcional para um sistema maioritário (que vem impedindo o partido de ter deputados na Assembleia Nacional), perseguição mediática, diabolização pelos políticos e pelo próprio sistema educativo – e, sobretudo, impotência para mudar o rumo da decadência francesa nas diversas facetas que a caracteriza e que foram sempre denunciadas pelo movimento.

6 comentários:

desculpeqqc disse...

Obrigado pela exposição.
Em conjunto com o post do Paulo Cunha Porto, fiquei com uma visão mais completa deste Senhor e da problemática eminente do seu movimento.

Anónimo disse...

Mudamos o visual!
Muito bem, gosto mais assim.

legionário

Flávio Santos disse...

Fui obrigado, meu caro, o template anterior estava a empurrar-me a barra da direita para o fundo do blogue. Mas ainda bem que preferes este.

Paulo Cunha Porto disse...

Meu Caro FSantos:
Antes do mais, parabéns pela fatiota nova, apesar de não acreditar que fiques longe do azul durante muito tempo. Em todo o caso, o problema , pelo qual já passei, como te lembrarás, é ajustável com uma mudança dos valores inscritos no "template".
No meu foi mudar no "main content" o "witht", tendo chegado baixá-lo para 460.
Quanto à inflexão de J-M.L.P., houve, há uns quatro anos, uma célebre palinódia, com lágrimas e tudo, ao visitar a obra social que uma destacada militante da FN marselhesa dirigia a favor dos doentes e velhos abandonados. Seguiram-se adaptações programáticas que permitiram a entrada no "Front" de quadros de um grupo social-nacionalista, com a troca da aceitação das regras do jogo político pela consagração desse pendor socialmente empenhado, bem como modificações no mesmo sentido no plano sectorial relativo ao fisco, então dirigido por J.-C. Martinez.
Também não gosto um bocadinho desse balcânico burlão.
A sucessão é um problema crucial. A filha é esperta, mas pró-aborto, não pode ser. Vamos lá ver o que sairá.
Claro que as "gaffes" são lamentáveis, apenas algo compreensíveis pela eterna provocação de que é vítima, inclusivamente a oriunda desse deputado que citas.
O sistema eleitoral foi, como muito bem dizes, mudado contra ele. Mas se, depois de tanto conflito e escândalo, a valia eleitoral passar a acrescentar-se de uns oito a dez pontos, no Sul, na Alsácia e em Paris até pode vir a beneficiá-lo.
Abraço.

Flávio Santos disse...

Obrigado pela dica, é uma tentação forte para regressar ao azul!

Anónimo disse...

Le Pen em alta na blogosfera. O Sis já sabe.