quarta-feira, julho 05, 2006

O homem que era (de direita à) quinta-feira

A saída de Freitas do Amaral do socrático governo suscitou na blogosfera um ror de críticas ao percurso político do frustrado candidato presidencial de 1985, a maior parte das quais mais que justas. Como este blogue não alinha por visões maniqueístas, vamos aqui deixar umas linhas sobre aquilo que vemos de positivo na obra política de Freitas, em particular para ilustração dos leitores mais novos, não deixando de sublinhar que o personagem em questão está muito longe de ser do nosso agrado, para usar uma expressão moderada.
É hoje ponto assente que o nascimento do CDS foi de todo conveniente para o regime saído do 25 de Abril, dado que a sua catalogação como partido de direita, quando na verdade nada mais era que um partido na linha democrata-cristã de outros congéneres europeus, criou o deserto precisamente à sua direita.
Não obstante, o CDS foi, e isso será sempre um facto a louvar, o único partido da Assembleia Constituinte (eleita na sequências das eleições de 25/4/1975) a votar contra a Constituição de 1976, que consagrava o "rumo ao socialismo", a irreversibilidade das nacionalizações, o papel do Conselho da Revolução e outros desastrosos (e de pesadas consequências) preceitos.
Coerentemente, em 1982 Freitas esteve na linha da frente da revisão constitucional que acabou de vez com o CR (que, recorde-se, não era eleito e tinha poder de veto sobre as leis emanadas da Assembleia da República). De caminho, houve uma aliança PS-CDS que ninguém compreendeu.
A falência da AD levou ao Bloco Central e Freitas ficou na expectativa. O seu momento de glória esteve para chegar em 1985, quando venceu folgadamente a primeira volta das Presidenciais, no entanto sem maioria. A segunda volta contra um desengravatado Soares foi fatal, com o apoio resmungão do PC ao homem que metera o socialismo na gaveta.
A partir daqui o seu percurso aproxima-se do PS, os discursos de teor maçónico e cada vez mais politicamente correcto multiplicam-se e o homem cai no descrédito completo. De direita já nem a sombra de um equívoco.

2 comentários:

Mendo Ramires disse...

Está feito o retrato do bicho. Bravo!

Anónimo disse...

Falta apurar o papel do bicho no assassinato do Adelino e Sá Carneiro...