sexta-feira, setembro 08, 2006

O conflito na Palestina

A recente guerra no Líbano (mais as exacções cometidas pelo exército israelita em Gaza) foi e continua a ser fonte de equívocos. Da forma mais infantil possível, parece que o Ocidente olha para o conflito israelo-palestiniano sem objectividade, apenas sectarismo: uns seriam pró-israelitas, outros pró-palestinos.
Como não corro o risco de ser englobado na primeira categoria, vou tentar explicar de que forma é que posso eventualmente caber na segunda.
O Estado de Israel nasce de uma votação na Assembleia Geral da ONU. Após décadas de difusão da ideologia sionista, após influências múltiplas junto do ocupante britânico, após a publicitação dos crimes nazis (reais ou imaginários), "o mundo" achou que os judeus tinham direito a um Estado. Para azar dos árabes, a localização do mesmo foi a Palestina. Quem nada teve a ver com as perseguições aos judeus no século XX (da Rússia à Alemanha, passando pela Roménia, Hungria, França, etc.) é que foi obrigado a conviver com eles.
Os sionistas não abriram mão de nenhuma táctica, incluindo o terrorismo: atentado no Hotel Rei David, assassinato do Conde Bernadotte (enviado especial da ONU à região), massacres vários, como o de Deir Yassin. Aquilo que os israelitas hoje chamam terrorismo foi por eles praticado em larga escala na década de 1940.
É fácil acusar os árabes de não terem aceite a criação do Estado de Israel. E porque é que o deveriam fazer? Não era fácil ver, perante os exemplos citados e muitos outros, que a partir daquele momento não poderia haver convivência pacífica entre árabes e judeus?
De humilhação em humilhação, de derrota militar em derrota militar, os palestinos tornaram-se um povo estrangeiro: estrangeiro na sua própria terra, obrigados a viver em campos de refugiados, sujeitos a controlos e maus tratos infindos; estrangeiro por via da emigração, em busca de uma vida menos má que sob a bota do brutal ocupante.
O terrorismo, recurso cobarde e bárbaro, nunca poderia resolver o conflito, antes o radicalizando por via da reacção do ocupante. O apoio descarado dos EUA a Israel, a inércia da Europa, viraram os árabes contra o mundo ocidental. Extinto o pan-arabismo nasseriano, os islamistas foram pacientemente tomando as rédeas da resistência. A globalização do conflito nasce do crescente peso dos "verdes", já não apenas árabes mas também de todo o mundo, da Indonésia ao Irão. (É curioso que o islamismo tem, sem o afirmar claramente, uma componente socialista muito forte e os seus líderes são frequentemente pessoas humildes, nada ostentatórias, que se confundem com o povo. Neste particular há um ponto comum com o nasserismo. Mas o que era o sonho de uma grande nação árabe foi substituído pelo sonho de um mundo islâmico.)
No entanto, muitos palestinos aderem ao islamismo não por sonhos de expansão territorial desta religião mas por reconhecerem que ele é a sua única esperança para o fim das humilhações (para além da forte componente assistencial de movimentos como o Hamas ou o Hezbollah, que gerem escolas, hospitais e fornecem comida aos mais necessitados).
O conflito não tem fim à vista não só porque os campos estão radicalizados mas também porque a injustiça fundamental e, pode-se dizer, fundadora do referido conflito - a forma como nasceu Israel e a sua expansão, tanto militar como a nível de colonatos-, bloqueia toda a compreensão mútua. E já se sabe que quem está em posição de força, ainda para mais apoiado pela maior potência do planeta, não tem qualquer estímulo em dar o primeiro passo.

8 comentários:

Anónimo disse...

Et voilá!
Sem comentários, a não ser,como é obvio, os do Buiça.
Ele aí vem

Legionário

vs disse...

Comentário!?
Claro que sim e, acho eu, não vão ser só meus, a contestar este post e estas mistificações e imposturas históricas.


1 - Israel não foi construído em terras palestinianas coisa nenhuma.
Nesse tempo não havia território da Palestina pela simples razão de que não havia quem reclamasse ser palestiniano, pois os árabes que lá viviam reclamavam-se sírios. Israel nasceu naquilo que foi, durante séculos, uma província Otomana.

2 - Foi depois da I Guerra Mundia que Estados como a Síria, a Jordânia e o Iraque foram criados, 'artificialmente', a partir do Império Turco, pelas potências vencedoras.

3 - A Jordânia foi contituída a partid de cerca de 80% dos territórios do que era o designado Mandato da Palestina, que originalmente foi designado pela Liga das Nações como parte do lar judaico.

3 - Em 1947, o Plano de partilha das Nações Unidas DETERMINOU a criação de DOIS Estados nos restantes 20% do Mandato, o Estado de Israel para os judeus e outro Estado para os árabes.
Estes rejeitaram o plano e desencadearam um guerra contra Israel. Mais uma vez, lixaram-se.

4 - Oito países árabes iniciaram uma guerra contra Israel em três frentes.Falharam.
Ainda hoje, essa malta refere-se a esse primeirto falhanço como a 'nakba' (a catástrofe).

SE NÃO TIVESSE HAVIDO UMA GUERRA MOVIDA PELOS PAÍSES ÁRABES, NÃO APENAS NÃO TERIA HAVIDO REFUGIADOS COMO EXISTIRIA DESDE 1949 UM ESTADO DA PALESTINA NA MARGEM OCIDENTAL E EM GAZA.
(e o resto é conversa)

5 - Israel conquistou terrítórios durante essa guerra. Israel disponibilizou-se para devolver esses territórios em troca de uma paz formal e do reconhecimento do Estado de Israel.. A oferta foi feita, em 1949, durante as conversações para o armistício, em Rodes, e na COnferência de Lausana.
Os árabes recusaram insistentemente.

6 - Refugiados?! Ah, houve muitos.
Entre 1948 e 1954, 800000 judeus foram obrigados a saír de Marrocos, da Tunísia, da Jordãnia, Irão, Síria, Egipto, Líbano e outros países muçulmanos.
Foram integrados em Israel.
Os países árabes recusaram-se a fazer o mesmo pelos refigiados árabes.
Se os refugiados judeus foram instalados em terras deixadas pelos fugitivos árabes....porque não autorizar os refugiados árabes nas terras bandonadas pelos judeus?
Fácil, é que, com a excepção da Jordânia, nenhum Estado árabe autoriza sequer os refigiados árabes a tornarem-se cidadãos de pleno direito.

7 - Os refugiados palestinianos que se estabeleceram em Gaza, em 1948 fizeram-no forçados, não por Israel, mas pelos egípcios e foram aí mantidos cpela foraç das armas, arriscando-se a serem liquidadeos se tentassem fugir e nunca obtendo cidadania egípcia ou até um passaporte egípcio.
(tudo isto foi registado pelo prório Yasser Arafat na sua biografia oficial, 'Arafat: Terrorist or Peace Maker)', publicada em 1982).

O sr. Sakher Habash, membor destacado da Fatah, é que xplicou bem as coisas em 1998, numa conferência que deu na Universidade Na-Najah. Disse o seu 'amigo' Sakher o seguinte: 'Para nõs, a questão dos refugiados é o trunfo que pode significar o fim do Estado israelita'

8 - De acordo com o tão citado Direito Internacional, os descendetes de uma população refigiada que foi realojada e permanece no exílio não têm direito ao estatuto legal de refugiados.

9 - Há 60' anos havia 1 milhão de judeus nos Estados árabes. Hoje, práticemante não há judeus nem estes podem sequer visitar parte desses países (nem como turistas).
Em Israel, PPELO CONTRÁRIO, os 170 000 áranes que NÃO PARTIRAM em 1949 contituem hoje uma população que se situam em 1.4 milhões de pessoas.
Têm 12 representates no Parlameto israelita, vários juízes com assento nos tribunais e, pasme-se, representates no Supremo Tribunal de Israel e estão presentes em todos os sectores profissionais (e no IDF) da sociedade, incluindo muito quadros médios e superiores.
(e o contrário FSAntos....será que sucede?? tenha santa paciência)

10 - Se os líderes árabes tivessem aceite o plano de divisão das Nações Unidas (que tantos invocam às vezes), de 29 de Novembro de 1947, teria existido sempre dois Estados no território, como previsto.
Se os árabes não tivessem invadido o problema dos refugiados nunca tinha existido.
A responsablidade do embróglio recai sobre so árabes que decidiram invadir, em claro desrespeito pela Resolução (e agora há muitos com súbito amor às resoluções da ONU) 181 da ONU.

12 - Gutz Hetzion e o bairro judeu da cidade velha de Jerusalem dizem-lhe algo?

Foram os líderes árabes que exortaram e convenceram os árabes da região a não aceitar a partilha e a saír do terrítório, confiantes que a guerra que moveriam ao novo Estado teria sucesso. Nunca passou sequer pelas atoalhadas cabecinhas que pudessem perder a guerra e, portanto, estavam convencidos de que, depois de dar cabo do canastro aos israelitas, voltariam calmamente.
Pois é....
O Estado de Israel não expulsou árabe nenhum.Em Tiberius e em Safed, por exemplo, os árabes, em vantagem populacional de 10 para 1 e sem serem importunados pelo Haganah, partiram em grande número, perante o olhar dos britânicos.

Os árabes muçulmanos que escolheram ficar não foram importunados e formam hojem mais de 20% da população de Israel.

Não vá por aqui FSantos...ao escolher este 'caminho' facilita a vida aqui à malta.
Desmontar tudo isto it's a piece of cake

Flávio Santos disse...

Eu não vou por lado nenhum, limito-me a dizer o que acho. E quando leio que "O Estado de Israel não expulsou árabe nenhum" sinceramente falta-me vontade de continuar a gastar o meu latim.

Anónimo disse...

"É preciso ter um caos dentro de si
para dar à luz uma estrela bailarina."


(Nietzsche)

Nuno Adão disse...

Afinal o Nietzsche está vivo, e eu que o havia citado...

Agora não há duvidas, depois desta resposta do amigo Buiça ao amigo Fsantos, digo com certeza que o último tem um mandato internacional do estado de Israel para sua defesa intransigente, e tudo pago pela Mossad :))

jsbmj@clix.pt disse...

FSantos, visita www.cromosdefutebol.blogspot.com. Abraços.

Anónimo disse...

Caro nelson buiça
Doa a quem doer – e dói muito a quem tem uma visão parcial "clubista" do conflito árabo-israelita - nesta ordem porque iniciado pela Liga Árabe em 15 de Maio de 1948 – a sua resposta ao FSantos está historicamente correcta.

O Estado Palestiniano pelo qual uma liderança Palestiniana desavisada luta há 58 anos de todas as formas, terrorismo incluído, podiam tê-lo tido sem derramar uma gota de sangue desde 15 de Maio de 1948! Estava definido no Plano de Partilha e Comunidade Económica da Palestina da Resolução 181 da ONU de 29 de Novembro de 1947 - pode ser lida no URL http://domino.un.org/UNISPAL.NSF/a06f2943c226015c85256c40005d359c/7f0af2bd897689b785256c330061d253!OpenDocument , que aposto "dobrado contra singelo" dos comentadores todos, só nelson buiça e eu lemos! Tão pouco terão lido o relatório e as recomendações da Comissão Especial da ONU que apresentou o estudo e pode ser lida no URL http://domino.un.org/UNISPAL.NSF/9a798adbf322aff38525617b006d88d7/07175de9fa2de563852568d3006e10f3!OpenDocument&Highlight=0,AC.13%2F2 . Ao que parece, as novas gerações não vêem qualquer necessidade de conhecer os antecedentes dos assuntos que comentam, mesmo os mais sérios que já reclamaram muitos milhares de mortos e mais causarão, discutindo-os como se de um Sporting-Benfica se tratasse. Só que no fim de um Sporting-Benfica os adeptos vão para casa, e neste conflito há adeptos demais, de ambos os lados, a irem para o cemitério.

Tenho apenas a juntar uma informação complementa ao ponto número 3 do escrito do buiça que repito para facilitar:

3 - Em 1947, o Plano de partilha das Nações Unidas DETERMINOU a criação de DOIS Estados nos restantes 20% do Mandato, o Estado de Israel para os judeus e outro Estado para os árabes.

No Estado Judaico definido pelo Plano de Partilha viviam misturados 498.000 Judeus e 497.000 Árabes (incluídos 90.000 beduínos adicionados à posteriori) ou 51.% da população total da Palestina. Ficavam todos onde estavam, com direitos de cidadania iguais. Os bens móveis revertia a favor do estado onde se encontravam e os bens imóveis sem proprietário revertiam também a favor do estado onde se encontrava. O mito das terras roubadas terminava aí e não havia refugiados nenhuns. Não é preciso ser uma inteligência superior para perceber que esta era – em 1948 - uma situação demográfica favorável aos 497.000 Árabes, cujo índice de natalidade era muito superior aos dos Judeus, pelo que em poucos anos seriam a maioria e a maior força política. Teriam beneficiado do “know-how” dos Judeus e hoje seria o país mais avançado do Médio Oriente.

No Estado Árabe definido pelo Plano de Partilha viviam misturados 725.000 Árabes e 10.000 Judeus. Ficavam todos onde estavam, com direitos de cidadania iguais. Os bens móveis revertia a favor do estado onde se encontravam e os bens imóveis sem proprietário revertiam também a favor do estado onde se encontrava. O mito das terras roubadas terminava aí e não havia refugiados nenhuns. Aqui nem se punha a questão do domínio político, dado os Judeus estarem em óbvia minoria. Integrado na Comunidade Económica da Palestina, este Estado seria tão avançado como o anterior.

A cidade de Jerusalém (Belém incluída), onde viviam misturados 105.000 Árabes e 100.000 Judeus, receberia um Estatuto Internacional e seria administrada por um “Board of Trustees”, sob o controlo das Nações Unidas.

Vale a pena ainda reproduzir a posição da então URSS sobre o Plano de Partilha e Comunidade Económica da Palestina, pela boca do então delegado da URSS às Nações Unidas, Andre Gromyko:

USSR

"... The essence of the question was the right of self-determination of hundreds of thousands of Jews and Arabs living in Palestine; the right of the Arabs as well as the Jews of Palestine to live in freedom and peace in a State of their own. It was necessary to take into consideration all the sufferings and needs of the Jewish people, whom none of the States of Western Europe has been able to help during their struggle against the Hitlerites and the allies of the Hitlerites for the defense of their rights and their existence.

"The Jewish people were therefore striving to create a State of their own and it would be unjust to deny them that right. The problem was urgent and could not be avoided by plunging back into the darkness of the ages.

"Every people - and that included the Jewish people - had full right to demand that their fate would not depend on the mercy or the good will of a particular State. The Members of the United Nations could help the Jewish people by acting in accordance with the principles of the Charter, which called for the guaranteeing to every people of their right to independence and self-determination ...

Abraço,
tribunus

Anónimo disse...

Por que nao:)