terça-feira, setembro 12, 2006

O meu 12 de Setembro

Não, caro leitor, não me enganei na data no título deste postal. No dia 12 de Setembro de 2001 tive que apanhar um avião para Manchester por motivos profissionais. Para além do pânico que a ideia provocou em alguns familiares não imaginam o caos que se viveu nos aeroportos nesse dia.
Logo à chegada à Portela dois polícias de “canhota” em punho davam o mote. Os passageiros tiveram que fazer o check in com duas horas de antecedência, tendo que aguentar uma “seca” descomunal até embarcarem. Houve tempo para ler os jornais, já então com títulos pacóvios como “O dia em que tudo mudou” ou “O mundo não vai voltar a ser como antes”.
Bush, milagrosamente, inverteu a queda nos índices de popularidade, agregando o sentimento comum de união na nação ultrajada. (O mesmo sucedeu com Olmert após a invasão do Líbano. No caso de ambos os líderes amigos o recuo na popularidade foi coisa de um momento, assentada a poeira das guerras que ambos moveram.)
O vôo decorreu sem incidentes mas após a aterragem em Manchester os passageiros tiveram que permanecer mais de meia hora dentro do avião, supõe-se que por motivos de segurança. Mas nada lhes foi comunicado. “This is disgôsting”, clamava uma velhota com irresistível pronúncia nortenha.
O regresso, a 13, não foi menos turbulento. Com os corredores do aeroporto pejados de gente, mal consegui encontrar uma cadeira para ler os relatos das desgraças individuais que o "Daily Telegraph" sobriamente narrava. Nunca vi sinais de pânico ou medo nos passageiros, antes o enfado pelos transtornos causados.
O tempo passou, Bush envolveu os EUA em duas guerras, qual delas a decorrer da pior forma e sem fim à vista. Os objectivos pomposamente proclamados de guerra ao terror estão mais longe de serem alcançados do que há cinco anos. No Afeganistão os taliban estão tão activos como em 1994, quando o apoio tácito dos EUA e activo do Paquistão os alcandorou ao poder. O Iraque do sanguinário Saddam, que mesmo assim permitia liberdade de culto às religiões minoritárias (incluindo cristãos e judeus), enquanto efectivamente reprimia os xiitas e os marginalizava, tornou-se um gigantesco teatro de operações da jihad.
A questão que se deve colocar não é se o mundo está hoje mais ou menos seguro que antes do 11 de Setembro de 2001 mas sim se o mundo está hoje mais ou menos seguro que antes da chegada de Bush e da sua trupe ao poder.
Ao mesmo tempo que se constatava o fracasso da “guerra ao terrorismo” começavam a aparecer as primeiras contestações à versão oficial sobre os atentados. Algumas delirantes, outras demagógicas, muitas credíveis. O Dragão lista algumas delas, cuja leitura se recomenda.
Os povos normalmente não aprendem com os erros e estão sempre prontos a cair na ratoeira da retórica de algum demagogo ambicioso. Nos nossos tempos o medo tornou-se a arma destes demagogos; sejam eles Bush ou Putin, o objectivo é arregimentar as consciências, coarctar as liberdades, manipular as opiniões. E, acima de tudo, cimentar o seu poder. Como radicalismo alimenta radicalismo, nunca a jihad esteve tão pujante. O terrorismo islâmico tem dias radiosos pela frente.

2 comentários:

Anónimo disse...

...

JSM disse...

A comparação entre Bush e Putin, foi bem vista. A estratégia da guerra fria adaptou-se agora à guerra quente, mas o fantasma do inimigo exterior para segurar o interior mantém-se. Embora muito diferentes em termos pessoais, vistos de fora também têm algumas afinidades: um é um 'mujic' típico, envernizado no KGB; o outro é um vaqueiro típico, envernizado pelo petróleo.
À primeira vista parecem uns valentões das dúzias!
Um abraço.