Alguém terá dúvidas sobre o envolvimento de Vladimir Putin e da sua clique de ex-KGBs na morte da corajosa jornalista Anna Politkovskaia? Quem ousou denunciar os crimes russos na Chechénia com inusitado vigor sabia que se prestava a um jogo perigoso, que teve o seu culminar sangrento no passado dia 7.
Parece não haver igualmente muitas dúvidas sobre o facto de os atentados nos subúrbios de Moscovo, rapidamente atribuídos a terroristas chechenos por um obscuro primeiro-ministro no final do consulado de Ieltsin, terão na verdade sido obra do FSB, sucessor do KGB, onde Putin trabalhou tantos anos. Este, com a sua "denúncia", granjeou popularidade tal que veio a ser eleito presidente por um povo assustado pelo espectro do terrorismo. O paralelo com as tácticas concebidas por Karl Rove e pelos neo-cons é irresistível e explica a amizade entre os presidentes da Rússia e dos EUA e a triste popularidade de que gozam por quem neles ingénua ou hipocritamente vê baluartes na luta contra o fundamentalismo islâmico.
Tal como o mostrou a URSS no Afeganistão, tal como o mostrou Putin na Chechénia, tal como o mostrou Bush no Iraque, o terrorismo islâmico não surge de geração espontânea e tem servido de sustentáculo no poder a quem o diz combater com unhas e dentes, quando na verdade precisa dele como de pão para a boca.
(Ler igualmente: Os verdadeiros terroristas rejubilam, texto por mim escrito há ano e meio.)
3 comentários:
Mas então o que estás a sugeir?
Que andam todos "feitos" uns com os outros?
Bom...
E, já agora, qual achas que é a solução para este problema?
(ou achas que não há problema?)
Como é que se deve lidar com o fundamentalismo islâmico então?
Devem os EUA e seus aliados retirar de imediato as suas tropas e apostar no pacifismo?
Não sei se é impressão minha mas, quando te leio, tenho a sensação que de certa forma alinhas com os que tudo fazem para desculpar e/ou desresponsabilizar os muçulmanos de tudo e mais alguma coisa, como se fossem umas eternas vítimas, como se fossem incapazes de qualquer malfeitoria ou de tomar iniciativas, chegando quase a tratá-los como inimputáveis.
Estou certo'
Gostava que esclarecesses estes pontos que tanta discussão já suscitaram.
Abraço.
Não se lida com o fundamentalismo / fanatismo islâmico com paninhos quentes. Mas sendo os islamistas extremamente sensíveis às críticas e tendo um sentido de vitimização muito forte, é fácil manipulá-los para obter proveitos político-estratégicos. É isso que Putin e Bush têm feito.
Havendo um sincero objectivo de paz no Médio Oriente a dimensão popular do islamismo reduzir-se-á. A humilhação leva sempre as pessoas à busca de um referencial forte: foi assim na Alemanha em 33, na China nacionalista, no mundo árabe desde 1948.
Um abraço e vê lá se actualizas o blogue.
Caro FSantos
Inteiramente de acordo. Sem esquecer o interesse da China para poder reprimir e eliminar a religião muçulmana no Sinquião.
É a religião muçulmana como pode ser qualquer outra que não se mostre dócil.
O Dalai Lama denunciou recentemente o massacre dos tibetanos.
Enfim, Bush, Putin e o chinês, juntos pelas grandes causas da humanidade!
Delícias do pós-guerra, um bom nome para este filme.
Um abraço.
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