sexta-feira, dezembro 15, 2006

A religião na música

Mahler, tal como Mendelssohn judeu convertido ao cristianismo, nunca compôs uma missa. Interrogado uma vez sobre se pensava colmatar essa omissão, respondeu o genial compositor: "E o Credo?..."
É claro que não é necessário ser crente para se compor uma obra de inspiração religiosa e um dos melhores exemplos é o fantástico "Requiem Alemão" do agnóstico Johannes Brahms.
Em contrapartida, Joseph Haydn contava como tinha composto "A Criação" com uma enorme alegria devota, algo que transparece quase nota a nota na belíssima... criação do austríaco.
Os nossos tempos são mais dados a dúvidas, inquietações, terrores. O compositor alemão Bernd Aloïs Zimmermann (1918-1970), profundamente católico, suicidou-se cinco dias após compor o impressionante "Ich wandte mich um und sah alles Unrecht das geschah unter der Sonne - Acção Eclesiástica para dois narradores, contrabaixo e orquestra", que tive a rara felicidade de escutar ao vivo no CCB (em 2001) em concerto da Orquestra da Flandres sob a direcção de Luca Pfaff, incansável divulgador de música contemporânea. A obra, além de belíssima, é de uma angústia extrema, terminando com o maestro sentado em atitude de recolhimento, escutando as últimas notas da peça.
Nos nossos tempos cada vez menos a religião consegue aliviar o angst que nos ataca, impiedoso.

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