quarta-feira, janeiro 03, 2007

Pierre Drieu la Rochelle (1893-1945)

Representou de certa forma as contradições e os dramas do século XX. Inconformado com o ambiente burguês em que nasceu, sonhou com um "socialismo fascista" e aderiu com entusiasmo ao Parti Populaire Français de Jacques Doriot. O desastre francês de 1940 não o surpreendeu, convicto que estava da inelutável decadência das democracias. Abraçou o ideal nacional-socialista, tornando-se um convicto europeísta. O seu paradigma estava já para além da Nação.
Pierre Drieu la Rochelle nasceu há 104 anos. O seu percurso foi o de muitos franceses (e outros europeus) convictos de que a salvação da civilização ocidental estava numa Europa unida. Pode-se afirmar que abandonou o nacionalismo strictu sensu. Esse confronto entre as duas visões políticas para o mundo ocidental ainda hoje continua a marcar o debate nacionalista em todos os países europeus. A sua ida a Berlim, durante a Ocupação, em conjunto com outros escritores (como Robert Brasillach; Céline absteve-se) foi um marco, para alguns traumático, da atitude de certa intelectualidade francesa num dos períodos mais negros da história gaulesa.
O seu suicídio em 1945, após quase um ano escondido, representou a única saída que encontrou face à sua aposta falhada. "Je demande la mort", escreveu no seu Diário.
Apoiante de um regime anti-semita, ele que teve uma amante judia e teve como um dos melhores amigos o judeu Emmanuel Berl; apoiante de um regime que declarou guerra ao mundo anglo-saxónico, ele que era um apaixonado da literatura britânica; apoiante de um regime inequivocamente totalitário, ele que foi um espírito livre como poucos. Drieu representa a seu modo as contradições de um século trágico e o drama dos compromissos políticos dos intelectuais dessa época.
A sua vasta obra romanesca sobrevive a todas as vicissitudes. Ler hoje os seus livros é um prazer imenso, pela arte de retratar um mundo burguês em decadência acelerada, pela forma como ilustra os impulsos suicidas de um inadaptado que foi ele próprio, pela escrita depurada e expressiva, pela emoção contida que perpassa a cada página. Longe das academias que atribuem tal galardão, Drieu não deixou de conquistar a imortalidade.
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Ler igualmente o texto (e comentários de leitores) que escrevi há um ano: aqui.

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