Alguns analistas afirmaram que os resultados da primeira volta das eleições presidenciais francesas não trouxeram grandes surpresas, ao contrário do sucedido há cinco anos com a passagem de Jean-Marie Le Pen à segunda volta.
Aparentemente, assim é. Vamos ter um esperado duelo Sarkozy-Royal na segunda volta, François Bayrou confirma o seu excelente score e Le Pen fica em quarto lugar. Num país habituado à dispersão de votos por uma plêiade de candidatos, pode-se dizer que desta vez - e isto será uma primeira surpresa - funcionou o voto útil, tendo muita gente de esquerda ajudado Royal a passar sem problemas à segunda volta e muitos votantes habituais do Front national feito o mesmo com Sarkozy.
E aqui temos outra surpresa: a suposta fidelidade dos votantes frontistas é um mito. Ao obter apenas 10,4% dos votos, pode-se dizer que o tempo de Le Pen chegou ao fim, ao mesmo tempo que se verifica que uma certa recentragem do partido (linguagem mais moderada, posições algo ambíguas sobre o aborto ou o casamento de homossexuais e até apelo ao voto imigrante) só prejudicou o bretão. Paradoxalmente, com a sua habilidade e demagogia, Sarkozy aparentou ter uma linguagem mais contundente e deu uma imagem decidida no combate à "escumalha" dos subúrbios, cativando muitos habituais votantes do Front.
Sarkozy encarna, na verdade, o candidato preferido dos EUA (como Angela Merkel na Alemanha) e de certo estado do Médio Oriente; a este respeito são claras as posições favoráveis dos meios neo-conservadores, bem como a incrível adesão a Sarkozy por parte da comunidade judaica de França, abolindo todas as barreiras ideológicas. A retórica do candidato sobre a identidade nacional não deve esconder o facto de o próprio ter confessado sentir-se um pouco estrangeiro em França, ao passo que a sua mulher se orgulha de não ter uma gota de sangue francês.
Ségolène Royal é um puro produto de marketing: sorriso Pepsodent, roupa branca e uma abordagem menos ideológica que o costume no PSF, que tentam ocultar o facto de por trás da candidata estar toda a velha tropa jacobina que tanto mal tem feito à França.
Para terminar, deixo-vos um momento humorístico de primeira ordem: as reacções na sede do PC"F" aos microscópicos 1,9% da sua candidata (e ex-ministra) Marie-George Buffet. Duas tiradas são impagáveis: "Temos a confirmação de que estamos num país de fascistas" (sic) e, naturalmente, "o PC não morreu, a luta continua"...
2 comentários:
Todos os países da Europa devem ter direito à sua Odete!
Grande abraço
O Corcunda
Ó FSantos, mas a ex-ex-mulher do Sarko é mesmo gira e ainda por cima com a vantagem de não se sentir francesa!
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