segunda-feira, maio 14, 2007

Comércio justo

Ontem de manhã fui cirandar com a família para o Jardim da Estrela, em Lisboa. É um espaço aprazível e para mim com significado especial por ter frequentado uma escola que ficava defronte do mesmo. Andava nessa escola quando, num soalheiro 11 de Março de 1975, o meu Pai me foi buscar mais cedo que o habitual dada a agitação que se vivia na revolucionária cidade...
Espaço verde luxuriante, o jardim conserva o encanto de outros tempos. O jardim infantil é à antiga, ainda com equipamentos em ferro, algo que pensava já interdito pela incansável zeladora do nosso bem estar, a UE...
Bedéfilo militante, fui surpreendido logo à entrada por uma tenda de venda de álbuns a preços muito convidativos. Lá levei mais cinco para a colecção. Do outro lado do jardim, três ou quatro tenditas de Comércio Justo, como se designa essa iniciativa de apoio aos "povos do Sul". Se os caros leitores pensam que lá se podia adquirir mel do Alentejo ou aguardente de medronho algarvia, desenganem-se: este "Sul" designa o hemisfério, área a que parece circunscrever-se a preocupação de justiça dos organizadores. Mel, só do México; chocolates e brinquedos, do Brasil; e por aí fora. Não faltam produtos comercializados pelo Movimento dos Sem Terra. Uma das tendas era consagrada a um "Fórum", onde certamente se peroraria sobre as injustiças do capitalismo internacional.
Para os esquerdistas (chamemos as coisas pelo nome) que estão por trás desta organização, a injustiça afecta o chamado Terceiro Mundo, não se preocupando minimamente com a situação dos agricultores e artesãos do chamado Primeiro Mundo, por muito precária (e injusta) que possa ser a sua existência. Quase sempre conotados pelos progressistas como gente reaccionária e católica, não parecem merecer a sua compreensão humanitária. Já os povos do "seu" Sul, certamente com muito maior potencial revolucionário, são alvo das suas embevecidas e comoventes iniciativas. A justiça não é, afinal, o que os preocupa; é, isso sim, o referido potencial revolucionário; a manipulação da opinião pública ocidental; a possibilidade de enquadramento ideológico das massas terceiro-mundistas - e consequente tradução em actos políticos. E nós bem conhecemos a "justiça" e as condições de vida das massas que vivem nos regimes idealizados pelos organizadores da iniciativa.

1 comentário:

Flávio Gonçalves disse...

Quando estiveram na minha universidade habituei-me ao café que lhes comprei, absolutamente delicioso.

E os chocolates...

Tenho de lá ir (entre o comércio justo e dar dinheiro aos Cafés Delta para financiar a Festa do Avante... creio que fico pelos primeiros).