quinta-feira, junho 21, 2007

Visto em Roma (conclusão)

(Continuação e conclusão das partes 1 e 2.)
Uma visita a Roma não deve dispensar uma ida à Piazza della Torre Argentina onde, numas ruínas descobertas no início do século XX, se pode ver o local onde foi assassinado Júlio César. (Defronte há uma excelente loja Feltrinelli, a famosa livraria, a melhor das três que visitei.) Infelizmente o local é poiso de alguns marginais e vagabundos (sem-abrigo, como hoje se diz).
Seguindo pelo Corso Vittorio Emanuelle chegamos ao Tevere (Tibre). Do outro lado espera-nos o Vaticano e, um pouco à direita, o Castelo Sant'Angello, que nos inícios foi uma fortaleza mandada construir pelo imperador Adriano.
A bela Via della Conciliazione leva-nos até à Piazza San Pietro. O nome daquela evoca o Tratado de Latrão que, sob os auspícios de Benito Mussolini, efectivou o estatuto do Vaticano e a sua independência, em 1929. A Praça de São Pedro parece menos imponente ao vivo que na televisão, talvez por a ter visto despida de grandes multidões. A arquitectura é imponente e sóbria, em estilo barroco; tendo tido o contributo de variadíssimos artistas, a Basílica é no entanto conhecida pelo contributo primordial de Bernini e de Michelangelo (a cúpula de 160 metros de altura foi por si concebida). Do interior, riquíssimo, destacam-se a Pietà de Michelangelo e o impressionante Baldaquino, de Bernini (na foto), sob o qual se situa o altar, onde só o Papa pode proferir missa, e ele próprio situado sobre o local onde se pensa estar sepultado Pedro. Sugiro uma olhadela a esta página para conhecerem um pouco melhor a Basílica, a sua história e a sua arte.
Infelizmente o meu tempo livre não coincidiu com o horário de visita à capela Sistina e aos Museus do Vaticano, o que muito lastimei. Pude no entanto visitar a sala do Tesouro.
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A vida em Roma, para o turista, não é necessariamente cara. Pode-se comer bem e não pagar muito e há hotéis para todas as bolsas. O comércio tem preços decentes, nomeadamente as livrarias, com uma pletórica oferta de títulos muito em conta.
Roma não parece estar invadida por imigrantes como, por exemplo, Paris ou Londres. Ao contrário do que acontece nestas cidades, taxistas e empregados de mesa são naturais do país, o que não descaracteriza a cidade aos olhos do turista (e certamente ainda menos aos olhos dos seus habitantes).
Turistas há muitos mas concentrados em três pontos: Vaticano; zona do Coliseu e Fórum; e Fontana di Trevi, claro.
A rede de metro é pouco extensa, há apenas duas linhas; é preferível escolher o autocarro ou andar a pé pois há sempre uma surpresa em cada rua. Foi totalmente sem o planear que dei com a magnífica Coluna de Trajano que, nos seus 40 metros de altura, mostra belos relevos caracterizando a vida do imperador; é hoje encimada não por uma estátua deste (desaparecida no século XVI) mas por uma de Pedro, que não quadra de todo com o monumento. Ao lado podemos ver os Mercados de Trajano e o Fórum de Augusto, mais abaixo, contornando o Capitólio, deparamos com o Teatro de Marcelo e, continuando, chegamos ao Circo Massimo. Daí às Termas de Caracala ou ao Coliseu, Fórum e Palatino é, como já vimos, um passo. Uma quantidade impressionante de monumentos históricos numa área relativamente restrita!
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Uma menção a Mussolini. Ainda hoje parece haver um culto ao Duce, seja nas barracas que vendem chapéus e toalhas com reproduções de imagens suas, seja em livrarias especializadas ou em lojas de recordações. No entanto, a cidade oficial quase que ignora quem nela governou durante mais de um quinto do século passado. E a sua marca ainda hoje se lá sente: duas das ruas que vão dar ao Coliseu, a Via del Foro Romano e a Via Gregorio foram rasgadas no Ventennio; o bairro residencial EUR, também. Perto do Coliseu, no ponto onde começa a Via Gregorio, ainda se mantém de pé uma coluna mencionando o facto de a rua ter sido construído durante o reinado de Vittorio Emanuelle III, sendo chefe de governo Benito Mussolini. Um esquecimento dos democratas, esta coluna...
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Por o que me apercebi, a vida cultural romana é intensa mas aparentemente menos que em outras grandes cidades europeias (a fazer fé na informação dos jornais). Abarcando várias épocas, os espectáculos não esquecem os clássicos, nomeadamente Homero e Virgílio, mesmo que em encenações modernas.
É uma cidade magnífica, com monumentalidade, com espaços mais recatados, com bairros pitorescos como Trastevere e - o que não é excepção no panorama europeu - com vastas áreas residenciais feias, sujas e degradadas. Mas essas não ficam na retina.

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