sexta-feira, setembro 07, 2007

Gente do Norte

Já faz parte do meu ritual de férias (que terminaram no já longínquo dia 17 de Agosto) encontrar amigos e camaradas de convicções do Norte. É bom reencontrar rostos de pessoas que unem laços de amizade, de crenças num Portugal diferente, de afinidades partilhadas. Pessoas mais abertas, mais francas (em média) que as de "cá de baixo", às quais falta tantas vezes a sinceridade dos nortenhos. Para o bem e para o mal: gente de menos artifícios, directa. E em geral bem disposta.
O Porto conserva um ambiente provinciano que a mim, que lá não vivo, me agrada. Não é uma cidade fechada, estagnada. Mas também não é uma urbe descabeladamente aberta a tudo o que é novidade ou fashion. O seu orgulho, que tantas vezes é interpretado pelos lisboetas como bacoco provincianismo, tem razões de ser, algumas boas: o ter sabido, na enxurrada de décadas de revoluções e progresso tecnológico, manter uma identidade que em Lisboa já é difícil encontrar. Aqui, em vez de se lutar por encontrar e reforçar essa identidade, pretende-se promover a ideia de que Lisboa se reencontra no reencontro com o outro: com os de fora, com a cultura importada, com as gentes que por aqui desaguam; sem ocultar os intercâmbios, tantas vezes profícuos, de séculos de que a cidade é testemunho, procura-se incorporá-la de golpe, de uma forma ideologicamente pensada e implementada, na era globalizadora. Descaracterizá-la fazendo-nos crer que se reforça a sua identidade.
Nessa falácia (ainda) o Porto não caíu.

2 comentários:

Anónimo disse...

Mas nem tudo são rosas...!
E aqui, por vezes, tambem já se sente a asfixia multi-qualquer coisa.
Temos que encontrar um "zona-franca" para a nossa gente se encontar mais vezes.

Abraço
Legionário

Luís Bonifácio disse...

O Porto já foi bem mais orgulhoso. Mas esse orgulho levava a fazer as coisas de uma maneira diferente. Hoje em dia, sobretudo desde Fernando Gomes, o Porto deixou de ser Tripeiro e passou a ser apenas Portuense, a sua única ambição é copiar Lisboa. E como nós sabemos as cópias são sempre muito piores que os originais.