quarta-feira, dezembro 19, 2007

A lei dos 5000

«A república governa mal - mas defende-se bem», dizia Maurras. A lei dos partidos, que inviabiliza a existência de movimentos políticos que tenham menos de 5000 militantes, é disso um excelente exemplo. Cozinhada pelo Bloco Central, aceite pelos três aspirantes à gamela (como dizia Garcia Pereira ontem à noite no debate da SIC Notícias), esta lei protege ainda mais os partidos com representação par(a)lamentar, livres que estarão dos "maçadores" que, do MRPP ao PNR, ainda vão criticando o regime. Sim, porque a oposição parlamentar anda apenas à caça das prebendas e cargos que o apetecido poder traz, não pondo na verdade em causa o regime, apesar de algumas aparências de indignação:
- o CDS/PP, apesar de algumas posições pontuais mais ideológicas (como no caso do aborto), é daquela direita que, desde que os negócios corram bem, anda satisfeita com a democracia;
- o PCP, ao contrário do que se pensa normalmente, foi salvo pelo 25 de Novembro (obrigado, Melo Antunes) e, ao arrebanhar dezenas de câmaras municipais, sobretudo no Alentejo, teve a devida recompensa por se acomodar ao regime;
- já aos representantes da esquerda-caviar, que fogem dos proletas como o Diabo da Cruz (ai, este povinho ignorante!), satisfaz a adopção pelo governo de algumas questões ditas fracturantes (aborto, casas de chuto, casamentos homossexuais), bem como o financiamento de projectos kulturais igualmente "radicais".
Apesar dos seus deméritos programáticos, partidos como o MRPP e POUS fazem parte do folclore deste triste regime e, por vezes, até dizem umas verdades que a nomenclatura no poder tem que engolir. Já o PNR tem uma intervenção mais dinâmica e provocatória, embora não se tenha (e se calhar não o quis fazer) livrado da fama de reduto de extremistas; mas desde as autárquicas intercalares em Lisboa que estava a ter um destaque inusitado na imprensa e até na televisão, o que não deve ter agradado a muita gente, pois a mensagem nacionalista que Pinto Coelho andava a passar tem grandes condições de ser bem acolhida pelo povo desideologizado mas com um fundo patriótico.
Se querem que vos diga, acho que o regime mal parido em Abril fica mais coerente com o sectarismo (neste caso de extremo-centro) que nunca abandonou - e que de resto está bem espelhado no preâmbulo da Constituição.
Enfim, já não falta muito para a RTP Memória se poder dedicar à retransmissão dos épicos tempos de antena do MRPP, que se iniciam por uma Internacional há muito coberta de teias de aranha na estante onde dormem os discos de vinil dos quadros do PCP!

3 comentários:

Rui Caetano disse...

Ora, se as memórias da rtp se lembrasse de tantos tesourinhos deprimentes que tivemos de assistir ao longo destes anos.

O Réprobo disse...

Meu Caro F.Santos,
pois eu estou contente com a lei. Ficamos livres de uns tantos partidos. Agora é elevar os níveis: digamos, aquele que não conseguir comprovar ter milhão e meio de militantes será extinto.
Viva a limpeza ÉTIca.
Abraço

JSM disse...

Caro FSantos
Concordo naturalmente com tudo o que escreveu, excepto com a generosidade de chamar partidos ao partido único que ocupa o poder desde (pelo menos) 1910! No entanto seguindo o raciocínio comum pergunto-me: qual será a situação em vão ficar os 'melancias' que andam há um ror de anos coligados com o PCP? Ser-lhes-á aplicada a regra dos cinco mil? Ou o PCP resolve a coisa com a teoria do segundo clube?!!!
Um abraço... e sorte para amanhã.