Pela terceira vez no espaço de 12 meses desloquei-me a Bilbau, em trabalho. As outras duas visitas foram evocadas (aqui e aqui) na devida altura.
Mesmo necessariamente curtas, as minhas idas a Bilbau têm-me permitido formar uma ideia mais ou menos sólida da cidade. Acabo por me familiarizar com as ruas, com alguns locais, saber onde comer, onde comprar livros e discos, onde apreciar arte.
Arte. Na visita anterior contei-vos como me impressionou favoravelmente o Museo de Bellas Artes, na verdade de visita indispensável para quem passa pela cidade. Até aqui tinha-me limitado a apreciar o Guggenheim por fora. A arquitectura é arrojada mas atraente. Desta feita aventurei-me pelo interior. E que aventura nada prazenteira! Da colecção permanente à exposição actual, as obras expostas são, a meu ver, de uma indigência, de um mau gosto, de uma falta de sentido estético, de uma atitude engagé insuportável. Ao contrário da música do século XX, de que sou apreciador e da qual tenho dezenas de discos, a pintura do século passado nunca foi da minha predilecção (eufemismo). Não foi o Guggenheim que me fez mudar, pelo contrário. Não vou entrar em detalhes pois os interessados podem procurá-los no site oficial. Digo-vos apenas que as quase duas horas que lá passei foram uma das piores experiências culturais da minha vida.
Pude finalmente visitar o Casco Viejo, logo por azar no único dia (a passada quinta-feira) do mês de Novembro em que a normalmente pluviosa Bilbau viu chover! Comecei pelo Teatro Arriaga - cujo nome homenageia o talentoso e infortunado Juan Crisóstomo de Arriaga (o "Mozart basco": 1806-1824), prodígio musical falecido pouco antes de completar 18 anos (a sua sinfonia e os seus três quartetos de cordas são indispensáveis) - bem junto à Ria. Embrenhei-me de seguida nas ruelas que levam à Catedral de Santiago, bela construção gótica. De permeio, a Plaza Nueva, menos bela que as praças fechadas de Salamanca ou Madrid. O centro histórico de Bilbau deveria estar melhor preservado, sucedendo-se edifícios mal conservados e outros totalmente renovados.
A Gran Via Don Diego López de Haro é o centro nevrálgico da cidade, com o magnífico edifício da Diputación Foral e alguns prédios a lembrar os boulevards parisienses. Tem largos passeios e percorre-se com agrado. Numa transversal está a belíssima Igreja do Sagrado Corazón, barroca.
Falando de livros, comprei apenas um: "Franco e Mussolini", de Javier Tusell e Genoveva Queipo de Llano, que aborda a política espanhola durante a II Guerra Mundial, em especial a relação entre os dois ditadores, diferentes em muita coisa (origens, ideário) mas aliados, desde a Guerra Civil. Demonstra que o Duce teve um papel fundamental no evitar da entrada da Espanha no conflito mundial. (Editora Península, 22€)
A Guerra Civil é tema inesgotável das edições. Também reparei num "Antí-Moa", que me pareceu uma reacção patética dos defensores da versão politicamente correcta do conflito.
Uma palavra ainda para o excelente jornal El Correo, com enorme cobertura do problema do terrorismo etarra, com uma abordagem inequivocamente condenatória da banda terrorista. Pontificava nas páginas do velho jornal (já passou o nº 30.000) uma entrevista pungente com uma viúva, a quem os terroristas mataram o marido (polícia) há já 28 anos. A dor permanece imensa, o perdão não existe e a convicção de que não se dialoga com assassinos declarada.
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Bilbau é uma cidade que não deixamos com saudade infinda mas à qual se volta sempre com agrado.
Bilbau é uma cidade que não deixamos com saudade infinda mas à qual se volta sempre com agrado.
1 comentário:
"Demonstra que o Duce teve um papel fundamental no evitar da entrada da Espanha no conflito mundial."
Caríssimo, deveras interessante este ponto de vista.
Cumprimentos.
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