segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Memórias ideológicas (conclusão)

Na formação do meu ideário o sentimento da portugalidade ocupa um lugar essencial. Não se trata aqui de listar autores que reflectiram sobre o mesmo, de tal forma são mais ou menos de todos vós conhecidos. O que quero aqui abordar é a necessidade daquele sentimento.
Há vinte anos não seria necessário gastar muitas linhas para frisar a associação biunívoca portugalidade-nacionalismo. Entretanto, surgiu uma nova geração mais urbana (em todos os sentidos da palavra), mais aberta aos movimentos europeus e, infelizmente, menos preocupada em estudar a nossa história, a nossa cultura, o sentir português. Mal se apercebem de como são também um fruto da política (des)educativa das últimas décadas, que relegou o estudo da história e cultura pátrias para segundo plano, em favor de abordagens "europeias".
Sem conhecimento do passado, da nossa cultura, da nossa língua (e que mal se fala e escreve hoje em dia) não há futuro para Portugal como nação livre e soberana. É por o saberem que os dinamitadores culturais destruiram a forma tradicional de ensino e mudaram por completo o seu conteúdo, em favor de agendas político-ideológicas esquerdistas e de pendor maçónico. A "direita", como de costume, acomodou-se. Como dizia o outro, "desde que os investimentos corram bem, está tudo bem", o resto são preocupações de idealistas.
Durante a Guerra Fria houve alguma condescendência da direita dos interesses com a direita dos valores dada a luta comum contra o comunismo. Assegurada a derrota deste aquela despiu toda e qualquer veste que semelhasse um corpo de princípios sólidos e a direita dos valores ficou marginalizada e equiparada a um bando de extremistas parados no tempo.
Os anos 80, que marcaram o fim da minha adolescência, foram uma década propícia para analisar esta transição, ficando claro que a defesa sincera de Portugal estava limitada à tal meia dúzia de idealistas. É espantoso constatar, por exemplo, como na altura os colunistas de esquerda se lamentavam da marginalização a que a música de um José Afonso estava sujeita nas rádios! A queda do Muro de Berlim e o surgimento de uma "nova esquerda" (que difere da "velha" por uma questão táctica de não defender abertamente ditaduras da sua cor e por albergar a defesa de "questões fracturantes), um ror de vezes em concubinato aberto com a esquerda tradicional e os seus jornais, literalmente por ela tomados de assalto, explicam uma parte do problema; a retórica soarista do "direito à indignação" e a ascensão de Jorge Sampaio à presidência, com a sua agenda de esquerda bem marcada, também contribuíram para o actual estado de coisas. Por fim, a criação do BE, pondo fim à histórica disseminação partidária da extrema esquerda e conseguindo cativar a juventude da classe média (e não só), compôs o quadro.
A tudo isto fui assistindo, num crescendo de inquietação. Parece hoje coisa de um passado distante mas ainda na década de 80 era possível ver, como comentadores de telejornais, os grandes Manuel Maria Múrias e Franco Nogueira! Que defendiam, perante a minha admiração de jovem, o Portugal eterno e verberavam o Portugal moderno. Ou haver colóquios (como foi o caso em 1990) na Universidade Lusíada moderados por Jaime Nogueira Pinto, em que durante duas manhãs se abordava o legado do "presidente Salazar", com intervenções entre outros do citado Franco Nogueira e de Kaúlza de Arriaga! E com chamada de primeira página no extinto "O Dia" (curiosamente apareço na fotografia da primeira página, entre a assistência)!
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Esta análise não podia ficar completa sem umas palavras sobre o MAN. Observei o movimento à distância e quase sempre sob a óptica da imprensa que lhe era hostil. Li o jornal "Ofensiva" (que se vendia nas bancas de jornais!) e gostei de algumas coisas que li. No entanto, já na altura a agenda racialista era notória no movimento nacionalista; e se o risco de desagregação nacional sob o influxo de imigrantes em massa é sempre de ter em conta, inquietou-me o uso retórico da agenda racial, pela fácil demonização que isso propiciaria ao sistema e pela amálgama que seria igualmente fácil de fazer entre nacionalismo e racismo puro e simples. A partir do momento em que se passa para a opinião pública que nacionalismo = racismo está inviabilizada qualquer hipótese de crescimento sério do movimento. Será que este aprendeu a lição?

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