quarta-feira, janeiro 16, 2008

O democrata de São Bento

Todos sabemos que, hoje em dia, a melhor forma para desqualificar alguém aos olhos da opinião pública é aparentá-lo ou aproximá-lo das posições da extrema-direita. Esta táctica foi hoje usado pelo primeiro-ministro e presidente da comissão liquidatária de Portugal: «No Parlamento Europeu, estamos [PS] com as grandes famílias democráticas e europeístas e recusamos firmemente convergir, nem que seja tacitamente, com a extrema-direita.» Bingo! A acusação é tão grotesca, destinando-se ao BE, que nem vale a pena perder muito tempo a analisá-la. Por esta ordem de razões, se a dita "extrema-direita" se pronunciasse a favor do aborto o engenheiro-diplomado-ao-domingo tornar-se-ia de golpe num acérrimo defensor da vida?!
Igualmente desonesta é a sua afirmação de que «tudo separa a posição da esquerda democrática portuguesa da posição da esquerda conservadora», não só porque há muitos assuntos em que convergem (da imigração à perseguição aos que a criticam, passando pelas tretas da paridade, da não discriminação, etc.), como pela utilização do termo "conservadora", ou seja: "extrema" só a direita.
Mais honesto (sem se aperceber) esteve quando assumiu que obedeceu a ordens: «foi com base no mandato assim recebido que a presidência portuguesa concluiu a elaboração e a assinatura do Tratado de Lisboa». Mais claro que isto...
De resto, todo o discurso da criatura é uma tentativa descabelada de se fazer passar por muito democrática (e esse é o lado para o qual dormimos melhor) e de fazer crer que não há contradição entre a sua promessa de referendo e a sua não concretização. Tudo culmina num mimo democrático: «o sentido de responsabilidade leva o Governo a propor a ratificação parlamentar, [até porque] mais de 90 por cento dos deputados presentes nesta câmara são favoráveis ao Tratado de Lisboa», ou seja: o sentido de estado em democracia é jogar pelo seguro e não deixar a populaça expressar-se.

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