quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Memórias ideológicas

Oriundo da média burguesia urbana, não posso dizer que tenha tido em torno de mim uma cultura ideológica marcante. Os meus pais, como aconteceu com tantos outros, despertaram para a política após o 25 do 4 - e cedo perderam ilusões sobre a partidocracia que desde então nos (des)governou.
Com o espírito inconformista que caracteriza a juventude - e que tantas imprudências acarreta - aderi em espírito ao anarquismo, apreciando especialmente Proudhon, detestando Godwin, execrando o anarco-bombismo dos finais do século XIX e sentindo indiferença perante o individualismo de Stirner. Creio que no fundo sempre tive uma inclinação conservadora, patente na admiração pelo "mundo ideal", honesto e harmonioso, patente nos romances de Júlio Dinis, que reli diversas vezes. Não me surpreendi anos mais tarde quando descobri a admiração que nutria uma facção da Action Française pela obra de Proudhon.
Um dia, não sei bem como, dei por mim a reflectir sobre o fascismo, il vero, não o que a propaganda promove. A tentação do absoluto, a diluição dos conflitos sociais num todo nacional harmonioso, o feroz combate ao comunismo - ideologia que sempre abominei -, a exaltação nacional sem o esmagamento do indivíduo como no nazismo, a compatibilização entre tradição e modernidade - tudo isto contribuiu para uma crescente admiração pelo ventennio, pela figura do Duce e por essa extraordinária aventura que tão mal acabou, marginalizada pelas democracias, subalternizada e descaracterizada pelo nazismo.
Um grande substracto ideológico do meu pensamento veio com a leitura de Charles Maurras, que solidificou a minha instintiva desconfiança face aos regimes democráticos, produtos e servos da plutocracia.
O Integralismo Lusitano, em parte influenciado pelo pensamento do mestre de Martigues, foi uma corrente de renovação nacional, espiritual, cultural e ideológica, nos anos degradantes da I República, que prendeu a minha atenção. Pese a preponderância de António Sardinha no movimento, foi a prosa escorreita e de uma extraordinária limpidez de Luís de Almeida Braga que mais me cativou - e à qual volto recorrentemente.
Desiludido da política, descrente da capacidade da Pátria no seu resgate, triste pela desnacionalização crescente das correntes ditas nacionalistas, no meu íntimo não morre a busca de uma Terceira Via, utópica talvez, não tanto pela desadequação à realidade como pelo peso da ditadura democrática, subordinada ao capital apátrida e prostituída às ideias dissolutas das esquerdas acomodadas ao capitalismo.
***
(continua)

4 comentários:

Gazeta da Restauração disse...

O Integralismo Lusitano, como não poderia deixar de ser...
Estou ansioso para ler o resto.

abraço

Anónimo disse...

Compete-nos a nós combater a ditadura democrática, quanto mais não seja desmascarando a propaganda do regime junto dos que nos rodeiam. Como aliás o F. Santos tão bem faz.
Venha o resto...

Anónimo disse...

Ditadura democrática. Exactamente e ainda é dizer pouco! Eles levaram trinta e dois anos, trinta e dois, não é brincadeira.. - (e continuam, mais disfarçadamente é certo, mas sempre que há uma pequeníssima oportunidade, porque a vergonha não tem limites..., lá o difamam mais um bocadinho aqueles que o Povo reconhece como o mais perigoso e mais conspícuo bando de traidores, criminosos e ladrões deste País) a bater no pobre Salazar - por quem, já o escrevi vezes sem conta, o meu pai não nutria a mais pequena simpatia, sentimento que de certo modo transmitiu aos filhos, pelo que estou à vontade para dizer bem ou mal dele - cuja 'ditadura' e seu mentor, por comparação com este inferno em que nos forçam a viver, eram respectivamente o paraíso na Terra e um santo dos altares. Salazar podia ter tido os piores defeitos do mundo e alguns teria, mas nunca traiu a Pátria nem roubou à descarada milhares de milhões aos portugueses, como o tem feito há 3 décadas ininterruptamente esta quadrilha de ladrões, que, conluiados em cinco partidos mais alguns milhares d'idiotas que os seguem como cães de guarda, tiveram a sabedoria diabólica de subjugar todo um Povo e despedaçar uma Nação de milhões - continental e ultramarina! Eles, os "grandes democratas" que tiraram a 'canga da ditadura' das costas do Povo, julgaram que os portugueses ficaríam a adorá-los (será que julgaram realmente? Cínicos e traidores como são, talvez não) mas enganaram-se redondamente, saíndo-lhes o tiro pela culatra. Tarde e a más horas, mas saiu e ainda bem. É certo que mentiram descaradamente durante 32 anos e o Povo acreditou em todas as suas patranhas piamente, tal a hipocrisía com que foram despejadas. Mas as mentiras são como o azeite, vêm sempre à tona e quando isso aconteceu descobriu-se finalmente a matéria pútrida com que foram fabricados estes espécimes. Só espero que criminosos desta estirpe paguem ainda em vida, a quadruplicar, os incomensuráveis estragos feitos por ganância e maldade ao Povo e à Nação.

Parabéns pelos seus escritos.

Maria

Marcos Pinho de Escobar disse...

Meu Caro FSantos:

Grandes memórias, de quem foi beber à fonte do autêntico nacionalismo e da contra-revolução. Aguardo ansioso os próximos capítulos destas "memórias ideológicas", cujas linhas de força muito se ajustam aos meus pontos de vista.

Um abraço.